quinta-feira, 7 de abril de 2011

A Proventriculite

 Eventualmente, caro amigo ornitófilo, terá já convivido com esta terrível doença micótica, originada por fungos que se formam pela excessiva humidade ambiente, deteriorando as papas humedecidas, as sementes e outros elementos componentes alimentares das nossas aves de cativeiro, e, por muitos antibióticos que utilizemos, apenas um deles é eficaz - a Amfotericina B a 10%, que em Portugal infelizmente não é comercializada, apenas utilizada em injectáveis hospitalares.
   Este componente farmacêutico (para humanos) é comercializado em Itália com a denominação de FUNGILIN e em França com a designação de FUNGIZONE, sendo administrado 14 dias, à razão de 1 ml por litro de água, ou uma a duas gotas por bebedouro de 60 ml. Normalmente só se conseguem obter através de receita médica ou veterinária dos mesmos países. É particularmente indicada também nas Candi-dioses e outros fungos gastro-micóticos.
     Sei também que no Brasil, têm utilizado, com êxito !? - a Nistatina, comercializada com a denominação de MICOSTATIN,do mesmo laboratório anterior, na mesma dosagem.
    Há indicações da utilização em Espanha (e em Portugal) do Ketoconazol, comercializado com a denominação de PANFUNGOL, mas, e por experiência própria, sei ser apenas eficaz nas Candidioses.
   Tive noção exacta de lidar com esta doença fúngica quando em finais de 1997 adquiri um casal de Frisados Parisienses, de origem Italiana, que me custaram uma pequena fortuna, e que vinham já contaminados com a Proventriculite, em fase de desenvolvimento.Como então desconhecia o fármaco atrás referido, apenas tive oportunidade de utilizar um bom Probiótico (Fermentos Lácteos associados a cultivos laboratoriais anti-fúngicos e anti-bacterianos), que, sabendo eu não ser a cura, mas sim um bom preventivo, viabilizou a sobrevivência do casal por cerca de 2 meses, morrendo então primeiro o macho, e 15 dias depois a fêmea, ambos num estado de magreza acentuada.
    Esse estado de magreza deve-se ao facto de que o proventriculo das aves (pequeno "tubo" de passagem dos alimentos, imediatamente após do papo), face à ausência de enzimas ácidos, acaba por apresentar um pH neutro, inibindo desta forma a actividade da pepsina, enzima gástrico responsável pela degeribilidade das proteínas, pois só o consegue fazer em meio ácido. Na falta da absorção das proteínas ingeridas na alimentação, as aves vão emagrecendo lentamente, até à morte.
   Desde essa altura que tenho estudado a fundo este tema, quer em longas conversas com o Mestre Manuel Gonçalves, que também teve já contactos com esta doença, conseguindo o seu tratamento eficaz, com o fármaco atrás descrito, quer através da análise estudiosa de pequenos artigos, desde a brochura dos Laboratórios Moureau Ornithologie, distribuida pela Companhia Portuguesa de Higiéne, em escritos do grande Ornitólogo D. Alfonso Babra Garcia, também do Dr. Santiago Noval Melian, juiz F.O.C.D.E., pela Fundação Loro Parque, por Umberto Zingoni e ainda artigos esporádicos em revistas Italianas, Brasileiras e Internet.
    Alerta-me variadíssimas vezes o Mestre Manuel Gonçalves que, ao contrário do que muitos criadores julgam, a maior causa de morte nos ninhos, e posteriormente, é por causas fúngicas, e não pela Colibacilose, que actualmente é de mais fácil prevenção e tratamento - e eu próprio tenho constatado isso, pelos sintomas que detecto em queixas de elevadas mortes que tenho tido de muitos criadores.
    De facto, esta terrível doença, que poderá "varrer" entre 55% aos 95% das ninhadas na época das criações, aparece nos filhotes como resultado da faltas dos enzimas ácidos no Proventriculo, originando a sua inflamação, sendo então visível o famoso "pontinho negro" do tamanho de uma cabeça de alfinete, sobre a região do fígado - está assim praticamente desvendada a origem deste pontinho, que muita mortalidade arrasta atrás de si.
    Como poderão também eventualmente ter observado, este "pontinho negro" aparecer mais quando os pais não dão comer, ou quando o dão mas apresentam sintomas doentios. É que, como sabe o caro amigo leitor, as aves preparam no papo uma papa especial onde produzem os tais enzimas ácidos necessários à sobrevivência dos seus filhotes, e na ausência desta "paparoca", o filhote vai-se desta para... pior. Daí, quando damos a "palitada" ou a "seringada", devemos adicionar um Probiótico à papa de cria, fornecendo desta forma também aquilo com que o Proventriculo irá produzir; os enzimas necessários a uma boa digestão das proteínas - afinal é tão simples não é !
   - É como o Ovo de Colombo, que só nos lembramos quando os outros o dizem. 

   Claro que, normalmente à Proventriculite estarão já associadas outras doenças "normais" das aves, como a Colibacilose, Salmonelose e Candida Albicans, daí, será sempre necessário a associação de um triplo antibiótico, na papa de criação, para completar a acção dos Probióticos, particularmente indicada aos progenitores, afim de estes serem "limpos" de qualquer uma das doenças atrás referida.


O QUE CAUSARÁ DE FACTO A PROVENTRICULITE ?
   Em Itália a Proventriculite é conhecida pela "crise do sétimo dia", causada eventualmente por uma megabactéria ou um microrganismo, ao certo não se sabe ainda, mas ao que parece e por estudos mais recentes, esta "moléstia" poderá estar condicionada pela MICLOPLASMOSE, que diminui as resistências das aves abrindo caminho para a proliferação da suposta megabactéria.
   Será bom recordar nesta altura que, a Micoplasmose abre caminho para um indeternimado número de doenças, entre as quais a Coccidiose e a Salmonelose.
   O Distinto Ornitófilo Dr. Santiado Noval Melian efectuou numerosas autopsias a um grande número de aves, de cativeiro e outras silvestres que entretanto após o cativeiro adquiriram também a proventriculite, e em todas encontrou sempre uma ou outra bactéria diferente, associadas a esta terrível, digo novamente terrível doença, encontrando de tudo, como:
  • Salmonelas, colibacilos, pseudomonas, bacilos sereus etc.
  • De fungos, encontrou candidas e aspergillius e de parasitários os coccidios, toxoplasmas, ascaris etc.
   Poderá o caro amigo leitor começar a tirar conclusões, que o levarão com certeza a ter muito mais respeito por esta doença.
    A Fundação Loro Parque, de Tenerife entende que esta enfermidade é de tal ordem grave, e também particularmente para os Psitacídeos, que decidiu procurar os melhores meios de prevenir e combater a doença, patrocionando um Grupo de Investigadores de Enfermidades Orniticas da Universidade de Georgia nos E.U.A.
FALEMOS UM POUCOS DOS SINTOMAS MAIS USUAIS.
No embrião:
- Não é excluída a hipótese de uma forma congénita que cause a morte
embrionária (quando ainda no ovo) antes da eclosão.
Nos Filhotes:
- Nos filhotes, atrasa o crescimento;
- Apresentam o papo constantemente vazio, pois a mãe recusa-se a dar-lhes de comer, sabendo que estes estão doentes;
- Muito excepcionalmente uma ou outra fêmea continuará a alimentar o filhote que esteja contaminado;
- Face à desidratação provocada por uma forte dierreia, a pele dos filhotes fica seca e progressivamente gretada;
- Observa-se uma inflamação intestinal aguda, permitindo constatar através da pele do abdomem o proventriculo e a moela dilatados;
- Os intestinos adquirim uma coloração escura e os dejectos são verdosos e mal cheirosos.
- Poderemos também observar nos filhotes afectados, que quando estão esticados a
pedir alimento, observa-se um movimento pendular rítmico que indica que o sistema nervoso central também está afectado;
- No estado agudo, afecta o baço, tornando-se visível o clássico "pontinho negro", inflama-se o fígado, a cloaca fica obstruída e os filhotes morrem podendo presencear-se em pouco tempo um cheiro intenso de odor putrefacto.
Nas aves adultas:
- Poderá apresentar-se de forma sub-aguda, aguda e crónica;
- Geralmente as aves adultas morrem uns dias depois de se manifestar a doença, podendo sobreviver ainda algumas semanas, cujos sintomas clínicos são:
- Perda progressiva de peso;
- Delgadez e peito em quilha (faca);
- Embolamento e diarreia com dejecções abundantes serosas e mucosas;
- Inflamação proventricular e intestinal;
- Respiração ofegante e aumento destensivo do abdomen;
- Descoordenação funcional, movimentos anormais e irregulares da cabeça,
- Movimentos descoordenados e prisão muscular das patas, sintomas estes que constatam que esta enfermidade também afecta o sistema nervoso central.
    Claro será que em uma só aves estes sintomas não se manifestam todos em conjunto, poderá observar-se uma grande parte deles ao mesmo tempo.
    Deverá o caro amigo leitor ser alertado para o facto de que, a Proventriculite, na maioria dos casos aparece de "mansinho", isto é, raramente aparecem casos de uma intoxicação rápida e mortal.
    O mais frequente são as intoxicações crónicas, que na sua forma mais benigna aparece sem qualquer sintomatologia, normalmente produzem "apenas" esterilidade.
    É o caso das aves que colocam ovos claros vezes e vezes seguidas, sem encontrarmos motivos e respostas para isso.
    Posto isto, e como não existe ainda qualquer vacina preventiva, esperando que não demore muitos anos, apenas nos resta ...

PREVENIR, e como:
- Usando sempre e somente uma boa mistura de sementes e papas que nos possam garantir serem o mais frescas possíveis;
- As sementes devem estar sempre limpas, isentas de pó, testar assiduamente as sementes através da germinação; semente que não germine, não está fresca; semente que não seja brilhante, não está fresca; casca interior da semente que esteja escurecida, não está fresca;
- Evitar que as aves comam sementes do fundo das gaiolas, pois estas estão contaminadas com toda a espécie de germens;
- Evitar que as sementes e papas estejam guardados em ambientes húmidos e/ou muito quentes, pois favorece o desenvolvimento dos gérmens;
- Cuidado com as sementes germinadas, sobretudo em climas muito quentes e húmidos, pois desenvolvem muitas toxinas e fungos patogénicos. Só utilizar de boa qualidade, colocando umas gotas de iodo na água de germinar, não deixando demasiadas horas, lavando-as muito bem;
- São protectores contra as toxinas as verduras (sem pesticidas), as algas e o cálcio;
- Utilização de protectores hepáticos;
- Utilização assídua de Probióticos com propriedades anti-fúngicas e anti-bacterianas, alternando com um laxante suave, tipo sal de fruta;
- Não humedecer mais que 20% (de humidade relativa) as papas, não deixando estas mais que 2 ou 3 horas à disposição das aves.
- Ter sempre à disposição grit e carvão vegetal;
- E, cuidado com as sementes gordas !!! (Colza, Nabo, Cânhamo, Niger, por exemplo.)